A barbárie e a humilhação impostas pela polícia do Rio à população pobre da periferia parece não ter limites. Nesse dia 3 ocorreu a reconstituição da ação policial que terminou com a morte da auxiliar de serviços gerais Cláudia Ferreira, no Morro da Congonha, Zona Norte da cidade. Após ter sido baleada, Cláudia foi jogada no camburão de uma viatura da polícia e arrastada por 250 metro pela rua a caminho do hospital. As imagens da barbárie foram gravadas por um cinegrafista amador e chocaram o país.
Como se isso não fosse suficiente, durante a reconstituição do crime nesta quinta, a população do morro e os parentes da vítima sofreram uma nova humilhação. Os dois policiais militares que continuam presos devido à ação (cinco chegaram a ser detidos, mas três já estão soltos), participaram da reconstituição sem algemas, com roupa normal, e caminhavam tranquilamente pelo local, conversando e cumprimentando os outros policiais responsáveis pela investigação. Por outro lado, um morador preso naquele mesmo dia e que também participava da reconstituição, negro, estava algemado e com uniforme de presidiário. O morador está preso porque a polícia alega que ele tinha envolvimento com o tráfico, o que ele nega.
Os moradores e os parentes de Cláudia se revoltaram com aquela situação. "Antes de começar a reconstituição eu acreditava que seria séria. Agora que vejo o tenente sorrindo, comprando guaraná, caminhando para lá e para cá e cumprimentando os investigadores e ouvindo votos de boa sorte no julgamento, perdi a confiança na Justiça", disse o viúvo da vítima à imprensa. Há denúncias ainda de que as testemunhas estão sendo coagidas pela PM.
Essa situação absurda revela bem o caráter da Polícia Militar e o tratamento subumano a que os moradores da periferia estão submetidos diariamente. Cinquenta anos depois do golpe de 1964, as execuções continuam, assim como a intimidação e as investigações forjadas.
Como se não bastasse, nesse sábado tem início a ocupação do Complexo da Maré por tropas do Exército e pela polícia. Mais cenas de barbárie, infelizmente, estão por vir.
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