Informação do seu jeito
Lado a Lado com a Teoria do Embranquecimento no Brasil
Um casal de conceituados jornalistas brasileiros narram a apresentação do Brasil no encerramento dos Jogos Olímpicos:
“- Olha ele aí, o Renato Sorriso.
- Sorriso tava se divertindo quando vem a “autoridade” pedindo que ele deixe o local. E é ai que começa a nossa história, a história multicultural, a história da ternura, do carinho, a história de como nós abraçamos o imigrante. O abraço é o conceito principal dessa apresentação brasileira de oito minutos.
- E o segurança que chegou na base dos “aos costumes cidadão” entra no ritmo do Renato Sorriso, aquele gari, aquele funcionário da empresa pública de limpeza do Rio. Em vez de
apenas limpar a avenida ele vem dançando ao final de cada apresentação de escolas de Samba. Um profissional no carnaval do Rio. É o que mais samba na Sapucaí”
Isso ocorreu no último domingo (12/08), após a pífia performance do Brasil nas Olimpíadas 2012 realizada em Londres. O país sede dos próximos Jogos Olímpicos (Rio 2016) organiza uma breve apresentação do que pretende mostrar ao mundo daqui a quatro anos. Ao mostrar um personagem negro, representando uma gari e um segurança branco vestido de paletó e representando um imigrante. O nosso comitê olímpico blefou ao proporcionar uma integração racial que nunca existiu.
Ainda no mesmo mês, uma outra emissora começa a divulgar cenas de sua próxima novela. Algumas pessoas, ao verem imagens de chamada de uma nova novela “De Época” ficam apreensivas. Sofrem por antecedência ao imaginar as atrocidades que serão exibidas nos próximos oito meses: personagens negros apanhando em senzalas, mulheres negras sendo violentadas...dentre outras cenas que nem vale a pena descrever.
Não adianta dizer-lhes que se trata de uma ficção.
Quando as imagens são sobre imigrantes europeus que aqui chegaram, numa das novelas, à nado também nos trazem preocupações. Passamos a imaginar como essas famílias que vieram para o Brasil com “uma mão na frente e outras atrás” e conseguem um ascensão social e econômica. Alguns especialistas chegam a falar que esses imigrantes receberam terras e alguns benefícios ofertados pelos governos da época.
Há quem discorde que tenham recebido esses benefícios. Divergências à parte é possível imaginar que esses imigrantes não vieram nas mesmas condições que os africanos e não foram perseguidos da mesma forma (se é que foram perseguidos) quando aqui chegaram. O Estado brasileiro deu um “jeitinho” de acolher as famílias que trariam o tão sonhado “embranquecimento” para nossa nação. Em alguns casos criou leis para beneficiá-los.
Carlos Hasenbalg define o embranquecimento, ou ideal do branqueamento brasileiro, como um projeto nacional implementado por meio da miscigenação seletiva e políticas de povoamento e imigração européia. Para Thomas E. Skidmore a tese do branqueamento baseia-se na presunção da superioridade branca. Afirma que essa corrente vê na miscigenação a saída para tornar a população brasileira mais clara, por acreditar que o gene da raça branca prevaleceria sobre as demais.
Já Skidmore afirmavam que o branqueamento produziria uma população mestiça sadia, capaz de tornar-se sempre mais branca, tanto cultural como fisicamente. Para Florestan Fernandes, o ideal da miscigenação era tido como um mecanismo mais ou menos eficaz de absorção do mestiço. O essencial, no funcionamento desses mecanismos, não era nem a ascensão social de certa porção de negros e de mulatos, nem a igualdade racial, mas, ao contrário, a hegemonia da raça dominante.
Imaginar que as atrizes e atores negros interpretarão papéis de personagens subordinados aos senhores brancos é entristecedor, incomoda bastante. Não devemos esquecer o passado, mas sempre esquecem de contar a história das lideranças que lutaram (e muitos morreram) pela liberdade da população negra no Brasil. A tão sonhada liberdade não é mérito de nenhuma princesa.
Segundo o site da emissora e as camadas da TV teremos dois personagens negros de destaque. A história se passará em 1904, época em que a Lei Áurea já tinha sido assinada. Respiramos um pouco mais aliviados, embora ainda preocupados com as imagens que nossas crianças irão presenciar nas cenas diárias que irão ao ar à partir das dezoito horas. Não desejamos que as novas gerações tenham como únicas referências heróis brancos. Que não sintam orgulho de ser o que são: negros e negras. Preferimos uma autoestima elevada por conhecerem a história de seus antepassados e a certeza de que as populações da diáspora africana tiveram e têm um papel importante na história desse país.
Esperamos por imagens que contem outra história. Quem sabe uma novela sobre o Quilombo de Palmares, que tenha como principais personagens Zumbi, Dandara e outras lideranças negras. Já passou a hora da mídia brasileira se libertar dos resquícios de teorias racistas como a do embranquecimento. Quem sabe numa próxima oportunidade conheceremos a verdadeira história da população negra brasileira. Uma mídia enegrecida!
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George Oliveira
Economista
Militante do Movimento Negro
Mestrando do CIAGS/UFBA
#5
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A educação brasileira nas escolas nunca teve como base os movimentos de libertação do povo negro, a nossa história nas salas de aulas eram sempre contada de forma superficial. As personalidades negras guerreiras eram praticamente desconhecidas.A omissão dessa parte da história era e é... a opressão. Mas as histórias contadas de boca em boca, as lutas do dia a dia, o conhecimento e as pesquisas mostrar que vivemos em dois Brasis. Um que até hoje oprimir e outro que brusca igualdade, dignidade e respeito.
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