Informação do seu jeito
Morreu, às 14 horas desta sexta-feira (9), no Hospital Teresa de Lisieux, em Salvador, Bahia, o grande mestre de Capoeira Angola, João Pequeno, discípulo de Pastinha, o eterno Mestre Pastinha.
Mestre João Pequeno completaria no próximo dia 27, 94 anos de vida, uma vida de labutas, lutas, conquistas e arte. Arte que herdou dos ancestrais africanos e do seu grande mestre, o Pastinha, de quem recebeu o encargo de levar adiante, em sua Academia, os ensinamentos da Capoeira Angola.
A morte de Mestre João Pequeno é uma perda irreparável para a Capoeira na Bahia e no Brasil. Era ele o maior diplomata desta arte. Ganhou fama e notoriedade com seu talento e capacidade para transmitir os fundamentos dessa arte, síntese de luta e dança. Viveu toda a sua vida na Bahia, como seu antecessor, o Mestre Pastinha, morto há 30 anos.
Mestre João Pequeno nasceu em 27 de dezembro 1917, emnasceu em Araci no interior da Bahia. Aos quinze anos, fugiu da seca a pé, indo até Alagoinhas seguindo depois para Mata de São João onde permaneceu dez anos e trabalhou na plantação de cana-de-açúcar como chamador de boi, então conheceu Juvêncio na Fazenda São Pedro, que era ferreiro e capoeirista, quando tomou o primeiro contato com essa arte que sintetiza dança e luta.
Aos 25 anos, mudou-se para Salvador, onde trabalhou como condutor de bondes e na construção civil como servente de pedreiro, pedreiro, chegando a ser mestre de obras. Foi na construção civil que conheceu Cândido que lhe apresentou o mestre Barbosa que era um carregador do Largo 2 de Julho. Inscreveu-se no Centro Esportivo de Capoeira Angola, que era uma congregação de capoeiristas coordenada pelo Mestre Pastinha. Desde então, João Pereira passou a acompanhar o mestre Pastinha que logo ofereceu-lhe o cargo de treine, por volta de 1945.
Algum tempo depois João Pereira tornou-se João Pequeno. No final da década de 1960, quando Pastinha não podia mais ensinar passou a capoeira para João Pequeno dizendo: “João, você toma conta disto, porque eu vou morrer mas morro somente o corpo, e em espírito eu vivo, enquanto houver Capoeira o meu nome não desaparecerá”.
Na academia do Mestre Pastinha, João Pequeno ensinou capoeira a todos os outros grandes capoeiristas que dali se originaram e mais tarde tornaram-se grandes Mestres, entre eles João Grande, que se tornou seu grande parceiro de jogo, Morais e Curió.
Para João Pequeno, o capoeirista deve ser uma pessoa educada “uma boa árvore para dar bons frutos”. Para ele, a capoeira é muito boa não só para o corpo que se mantém flexível e jovem, mas também para desenvolver a mente e até mesmo servir como terapia, alem de ser usada de várias formas, trabalhada como a terra, pode-se até tirar o alimento dela.
João Pequeno via a capoeira como um processo de desenvolvimento do indivíduo, uma luta criada pelo fraco para enfrentar o forte, mas também uma dança, na qual ninguém deve machucar o par com quem dança, defendia a idéia de que o bom capoeirista sabe parar o pé para não machucar o adversário.
Algum tempo após a morte do mestre Pastinha, em 1981, o mestre João Pequeno reabre o Centro Esportivo de Capoeira Angola (Ceca) no Forte Santo Antônio Além do Carmo(1982), onde constitui a nova base de resistência, onde a Capoeira Angola despontaria para o mundo. Embora encontrando várias dificuldades para a manutenção de sua academia, conseguiu formar alguns mestres e um vasto numero de discípulos.
Na década de 1990, houve várias tentativas por parte do governo do estado da Bahia para desocupar o forte Santo Antônio para fins de reforma e modificação do uso do forte, paradoxalmente em um período também em que foi amplamente homenageado recebendo o titulo de cidadão da cidade de Salvador pela Câmara Municipal, Doutor Honoris Causa pela Universidade de Uberlândia, e Comendador de Cultura da República, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
”É uma doce pessoa”, é o que afirmavam todos os que tiveram a oportunidade de conhecer o Mestre João Pequeno, cuja simplicidade, espontaneidade e carisma seduzia a todos que iamo até o Forte Santo Antonio conferir suas rodas de Capoeira.
Além de ter impressionado a todos os que tiveram a oportunidade de vê-lo jogar com a sua excelentíssima capoeira e mandigagem, João Pequeno destacou-se como educador na capoeira, uma autoridade maior na capoeiragem de seu tempo, um referencial de luta e de vida em defesa da nobre arte afrodescendente.
Com informações de Kalila Pinto.
Fonte Biográfica: Mestre João Pequeno, Uma vida de Capoeira, de Luiz Augusto Normanha Lima, Professor da Universidade Estadual Paulista – Rio Claro.
Veja vídeo onde o mestre fala sobre a sua vida
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Hoje completa 2 anos da morte de um grade Mestre de Capoeira, João Pequeno um exemplo de vida e sabedoria. Salve, salve, meu mestre.
Que sua alma encontre a paz
Quando vemos o espaço reservado por um dos mais conhecidos entre os Jornais de Salvador, em “homenagem”, na data de falecimento do mestre Joao Pequeno, é que percebemos bem como é grande o descaso e a hipocrisia da Mídia baiana. Uma desrespeitosa pequena nota na primeira página, indica para a página de ultimas notícias, e lá ao final do jornal, a matéria sobre a morte do grande Mestre ao lado de todos os crimes ocorrido no dia. A tal página, mais parece uma página policial.
Eles, editores e diretores do jornal, de certo não entenderam ou talvez nem saibam que o Mestre Joao Pequeno fez tanto pela história da Bahia, como este instrumento de comunicação, em seus tantos anos de história de mídia baiana. Com uma grande diferença: o Mestre é reconhecido internacionalmente, o tal jornal, somente em Salvador. Acho um grande desrespeito para com a população negra desta terra. Acho um grande desrespeito para com o Mestre Joao Pequeno, que dedicou a sua vida à preservação de uma dos maiores patrimônios da cultura brasileira.
Lá vai mais um para a roda. A brincar em outro plano com os mais grandes. Nâo digo descanse, digo que siga brincando... Meus respeitos companheiro, que encontre seus parceiros. Até sempre.
Do Mestre João Pequeno também morre o corpo e fica o espírito vivo; a capoeira mencionará sempre seu nome; será recebido em paz, reflexo da simplicidade e doçura que cultivava nesta vida! Deus estrá com o senhor, sempre!
Segue em paz, Mestre João Pequeno. Por onde o senhor passar nessa nova caminhada, com certeza será recebido com a mesma doçura que recebia todos nós enquanto esteve aqui.
Deus estará com o senhor, sempre.
E aqui não lhe esqueceremos.
RESTA REZAR PARA QUE ELE ESTEJA DESCANSANDO EM PAZ ,VÁ EM PAZ MESTRE MOSTRAR SUA GINGA DE CAPOEIRA PARA O INFINITO ESPIRITUAL
Estou mto triste nesse dia, pois o Mundo da Capoeira perde seu maior Gardião, e eu tenho motivo suficiente para ester triste pois foi ele quem me encinou os primeiros passos na capoeira Angola, e foi ele que Jogou comigo na minha Formatura para Mestre. obrigado Mestre e Doutor João Pequeno. Descanse em paz...
É com tristeza e lágrima nos olhos que leio essa notícia nessa manhã se sábado! Mas a leio e choro com a felicidade de saber e ver a capacidade do Mestre João Pequeno, que com sua coragem e força enfrentou as dificuldades para dar seguimento a sua Arte e a do Mestre Pastinha, que certamente foram várias para manter viva a tradição da Capoeira Angola. Agora ele vai para o plano dos ancestrais e de lá velará pelos que aqui permanecem para em tempos mais amenos com a Capoeira dar prosseguimento a essa Arte. Se imortaliza tempo em que imortaliza o nome de seu Mestre Pastinha, que também é o Mestre dos Mestres. Tomemos como exemplo esse Mestre que soube imortalizar sua Arte, imortalizemos nós todos os negros e negras conscientes de nossa história e de nossa luta todas as tradições africanas e a de base africana no Brasil. Siga em paz Mestre para o mundo dos Ancestrais!
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