Informação do seu jeito
Documento Informativo
Equipe de pesquisa: Eddie Cottle, Paulo Capela e André Furlan Meirinho
Assistentes de pesquisa: Ronaldo Valter Matias e Filipe Gomes
Contato: iela@contato.ufsc.br Fone: + 55 (48) 3721-6483 - 3721-
4938
Uma lição vinda da África do Sul: Os cartéis da construção estão aumentando
significativamente os custos de infraestrutura da Copa do Mundo FIFA 2014 no
Brasil?
Introdução
Este relatório preliminar do Instituto de Estudos LatinoAmericanos (IELA) trata da operação dos cartéis de construção
envolvidos na Copa do Mundo FIFA.
O relatório de 2008 do Comitê de Concorrência da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o
setor de construção descobriu que, “infelizmente, a indústria
da construção sofreu com a atividade de cartel, como visto
na recente série de matérias amplamente divulgadas em todo o
mundo”. Participaram desta mesa redonda da OCDE 19 países da
Europa, Ásia, América do Norte e principalmente da África do
Sul. Ampla atividade de cartel foi descoberta na indústria do
cimento na Turquia e na Alemanha que incluía fixação de preços e
divisão de mercado. Na Holanda, as empresas de construção foram
consideradas culpadas por manter contas secretas nas quais as
empresas de obras públicas fraudaram 8,8%, produto de conluio.
No Japão e no Reino Unido grandes empresas estavam envolvidas na
manipulação das licitações para construção de pontes, estradas,
escolas, hospitais e conjuntos habitacionais, para citar apenas
alguns exemplos. A África do Sul apresentou seu relatório sobre
os custos excessivos relacionados aos estádios da Copa do Mundo
FIFA 2010 que, na época, estavam sob suspeitas de ter licitações
fraudulentas.1
Através de práticas de conluio nas licitações e
superfaturamento, as empresas de construção obtém ou alcançam
enormes ganhos financeiros às custas dos trabalhadores e dos
contribuintes dos países sede. Isso tudo é preocupante, pelo
fato de que o setor de construção não é somente vital para
todos os aspectos da atividade econômica, mas também porque
oferece a infraestrutura necessária para suprir as necessidades
básicas das pessoas tais como habitação, escolas, universidades,
hospitais e uma série de outras edificações do governo e outras
instalações públicas. O setor de construção também constrói
1 OCDE. “Concorrência na indústria da construção”. Diretório para
Assuntos Financeiros e Empresariais. Comitê de concorrência. 01-
Dez-2008
estradas, ferrovias, portos, sistemas de esgoto e etc.
Implicitamente, isso significa que as metas de desenvolvimento
que os governos estabeleceram ao sediar a Copa do Mundo
são compensadas em parte pela transferência maciça de
riqueza para empresas privadas em detrimento da criação
de emprego e redistribuição de renda, sufocando assim o
multiplicador econômico a que se destina. É neste contexto
que o descontentamento nacional surgiu no Brasil. Milhares de
pessoas nas principais cidades manifestaram sua indignação de
forma legítima contra o aumento dos custos de transporte, a má
qualidade dos serviços de saúde e de educação, incluindo os
custos crescentes da realização da Copa do Mundo da FIFA.
São as práticas de conluio de empresas de construção que levam
aos custos exorbitantes dos estádios da copa do mundo e dos
projetos de infraestrutura. Na África do Sul, que sediou a Copa
do Mundo FIFA 2010, somente o custo dos estádios aumentou em
1.008%2. No Brasil o aumento dos custos dos estádios da Copa
do Mundo já está em 327% segundo as estimativas de 2013, e
aumentarão rapidamente conforme os estádios sejam concluídos.
No ritmo atual de aumento dos custos, é provável que o Brasil
realize a Copa do Mundo FIFA mais cara da história das Copas do
Mundo.
Este documento informativo convida o governo brasileiro a seguir
imediatamente o exemplo dado pela Comissão de Concorrência
da África do Sul que investigou as operações de um cartel de
construção, levando finalmente a um tribunal que multou as
empresas de construção por práticas de concorrência desleal com
o possível julgamento de empresas não-cooperativas.
Lições dadas pela África do Sul
2 Michelle Taal. ‘Their Cup Runneth Over: Construction Companies and the 2010 FIFA World Cup’. In Eddie Cottle (ed) South Africa’s
World Cup: A Legacy for Whom? UKZN Publishers, South Africa.
3
Ibid.
O aumento de custos da Copa do Mundo FIFA 2010 na África do Sul
foi significativo e inicialmente foi atribuído à vulnerabilidade
dos países por conta da crise econômica mundial 2008-09. O ExMinistro da Fazenda Sul-Africano, Trevor Manuel, afirmou, em
outubro de 2008, que as obras da construção da Copa do Mundo
seriam afetadas porque “os custos de construção são uma grande
ameaça para o que queremos fazer”. No entanto ele não observou
que em outubro de 2007 a Comissão de Concorrência da África do
Sul montou uma equipe para rever os materiais de construção e o
setor de serviços.2
A estimativa do custo inicial foi calculada em R2,3 bilhões
(R $ 519 milhões) e seria pago pelo governo sul-africano, em
grande parte para financiar os estádios e a infraestruturas.
Entretanto, o custo total estimado de 2010 (e é provável que
seja ainda muito maior) para o governo da África do Sul era de
R39,3 bilhões (R$8,9 bilhões) – um aumento absurdo de 1.709%
sobre a estimativa inicial.3 Os custos dos estádios aumentaram
da estimativa inicial de R1,5 bilhões (R $ 338 milhões) para a
última estimativa de custos em mais de R17,4 milhões (R $ 3,9
bilhões), representando um aumento de 1.008%.
Cinco grandes empresas de construção civil na África do Sul:
Aveng, Murray & Roberts, Group Five, Wilson Bayly HolmesOvcon (WBHO) e Basil Read foram as principais empreiteiras
na construção dos estádios para a Copa do Mundo FIFA 2010 e
vários projetos de infraestrutura relacionada, com os quais
elas obtiveram lucros substanciais. Em 2007, todas estavam sob
investigação da Comissão de Concorrência da África do Sul por
suspeita de conluio e práticas anticompetitivas em relação
4Patrick Bond e Eddie Cottle. 'Economic Promises and Pitfalls of
South Africa's World Cup'. In Eddie Cottle (ed) South Africa's World Cup: A
Legacy for Whom? UKZN Publishers, South Africa. 2011.
3 Michelle Taal. 'Their Cup Runneth Over: Construction Companies
and the 2010 FIFA World Cup'.
a esses projetos.4 Infelizmente, a comissão não investigou
as ações de empresas internacionais tais como a alemã HBM
Stadien-und Sportstättenbau GmbH, empresa especializada na
construção de estádios, a GMP Architekten and Hightex engineers;
a empresa italiana Cimolai; a empresa francesa Bouygues e a
empresa holandesa BAM International, envolvidas na construção
dos estádios e que tiveram grandes aumentos dos custos de
construção.5
Em 17 de julho de 2013, no tribunal da Comissão da Concorrência
da África do Sul foi estimado de forma moderada que cerca
de R 4,7 bilhões (R$ 1 bilhão) de “lucros indevidos” foram
produzidos por empresas de construção nos preparativos para a
Copa do Mundo 2010 e em outros projetos. Elas foram multadas,
consequentemente, em um total de R 1,5 bilhões (R$ 338
milhões).6 As empresas de construção que não concordaram com
a resolução, tais como a Group 5, a Construction ID e a Power
Construction, agora enfrentam um possível processo.7
O setor da construção brasileiro
De acordo com o Portal 2014 brasileiro as empresas de construção
contratadas para a Copa do Mundo e infraestrutura relacionada
são: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Galvão Engenharia, OAS
Empreendimentos, Mendes Júnior, Via Engineering, Andrade
Mendonça, Construcap, Egesa, Hap e Engevix. As duas maiores
empresas de construção brasileiras envolvidas na Copa do Mundo
são a Andrade Gutierrez e a Odebrecht.
4 Michelle Taal. ‘Their Cup Runneth Over: Construction Companies
and the 2010 FIFA World Cup’.
5 Bond e Cottle
6
Chantelle Benjamin and Phillip de Wet. 2013 ‘The flaw that broke the construction cartel's back’. M&GOnline. 19 July http://
mg.co.za/article/2013-07-19-00-the-flaw-that-broke-the-construction-cartels-back (acessado em 22 de julho de 2013)
7SAPA. 2013. ‘Construction cartel faces disqualification from
govt tenders’. M&GOnline, 22 de julho
http://mg.co.za/article/2013-07-22-construction-cartelcompanies-fac... (acessado em
22 de julho de 2013)
Conforme a Copa do Mundo e as Olimpíadas se aproximam, o setor
de construção brasileiro está prestes a sair de sua inesperada
queda que pode ser vista pelo seu fraco desempenho, atingindo
um crescimento de apenas 4,2% em 2011 e de 2,2% em 2012.8 O
fraco desempenho está relacionado ao fato de que em maio de
2012 somente 25% dos projetos de transporte haviam completado
o processo de licitação9; e no final do mesmo mês 41% das obras
para a Copa do Mundo ainda não haviam sido iniciadas10. O setor
de construção tem que concluir a construção de 13 aeroportos,
7 portos e 37 projetos de transporte, e ainda construir ou
reformar 12 estádios para a Copa do Mundo de 2014.11 Este setor
emprega 2,5 milhões de trabalhadores formais e as estimativas
mostram que existem 1,5 milhões de trabalhadores informais. O
atraso contribui para o aumento da taxa de desemprego no Brasil
que foi de 5,60% em fevereiro de 2013.12
Tabela 1: Lucro liquido das empresas brasileiras de construção 2009-2011 (R$ .000)
Empresa 2009
Andrade Gutierrez 951.530 1.170.931 23 1.494.203
Construcap (Grupo CONCER) 18.513 15.646 -15
Egesa 57.335 63.345
Engevix 141.525 21.869 -85 79.806 265
Galvão Engenharia 285.829 84.684 -70 2.373 -97
Mendes Junior 130.296 52.212
OAS Empreendimentos 957 22.430 2 244 -58.350 -360
Odebrecht
8 Market Research. 2013. Brazil Infrastructure Report Q1 2013.
http://www.marketresearch.com/Business- Monitor-Internationalv304/Brazil-Infrastructure-Q1-7226497/ (acessado em 20 de abril
de 2013)
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1084662-copatem-so-25-de-obras...
(acessado em 20 de abril de 2013)
10
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2012/05/23/41-das-ob... (acessado em 24 de abril de 2013)
11Atualmente no Brasil há 14 estádios sendo construídos ou
reformados, sendo dois destes estádios privados.
12 http://www.tradingeconomics.com/brazil/unemployment-rate
(acessado em 20 de abril de 2013)
% Aumento
2010
2011
% Aumento
28
70
26.610
28.994 -54
10
20.314
-60
-61
2.787.000 148 45.000 -98
1.122.000
Fonte: Informações obtidas através dos Relatórios Anuais das empresas e das Demonstrações Financeiras Auditadas
Muitas das empresas envolvidas nos gastos com a infraestrutura
da Copa do Mundo no Brasil são sociedades fechadas e, portanto,
as informações financeiras da empresa não estão prontamente
disponíveis. No momento da composição deste artigo a maioria
das empresas ainda não havia divulgado seus Relatórios Anuais
2013 que poderiam oferecer uma perspectiva diferente ao que está
sendo apresentado aqui, pois a posição financeira provavelmente
melhorou conforme indicado anteriormente.
O que ficou claro com a tabela acima é que parece que o setor
está passando por flutuações drásticas em seus lucros líquidos
anuais. A Engevix, por exemplo, publicou -85% em 2010, porém
publicou um aumento de 256% em 2011. Empresas tais como a
OAS Empreendimentos, que tinha um lucro líquido de 2.244% em
2010, teve uma diminuição de 360% em 2011. A Andrade Gutierrez
divulgou um aumento de lucro líquido de 23% em 2010 e de 28%
em 2011, quanto a Odebrecht divulgou um aumento de 148% em
seu lucro líquido em 2010, o maior lucro de sua história.13 As
empresas não envolvidas nos projetos de construção da Copa do
Mundo são a Santa Barbara Consortium Construction, da Arena
Pantanal, que foi à falência14 e a Delta Construction, que
participou da construção do estádio do Maracanã, porém um Comitê
do Congresso descobriu que ela estava envolvida em subornos
feitos a políticos e outros agentes públicos.15
13 André Vieira. 2011. “Odebrecht tem maior lucro da sua
história”. Economia. 19 de maio http://economia.ig.com.br/
empresas/odebrecht-tem-maior-lucro-da-sua-historia/
n1300083191481.html
(acessado em 12 de agosto de 2013)
14 Portal2014.
http://www.portal2014.org.br/noticias/11487/
SECOPA+CONFIRMA+SAIDA+DE+CONSTRUTORA+DAS+OBRAS+DA+ARENA+PANTANAL
.html (acessado em 10 de agosto de 2013)
15 Julia Michaels. “A construtora Delta, a corrupção e a
liderança no Rio de Janeiro”. RioReal, 25 de abril de 2012
http://riorealblog.com/2012/04/25/delta-corruption-andleadership-in... (acessado em 10 de agosto de 2013)
Gastos excessivos dos estádios brasileiros
Construtoras brasileiras e estrangeiras, tais como o escritório
de arquitetura alemão GMP são os principais beneficiários dos
gastos com a Copa do Mundo FIFA 2014 e com a infraestrutura
relacionada que está atualmente calculada em U$ 18 bilhões,
sendo 78% dos gastos totais provenientes de financiamento
público. De acordo com o Ministro dos Esportes do Brasil, o
impacto geral econômico superará U$ 100 bilhões, criando 332.000
empregos permanentes (2009-2014) e 381.000 empregos temporários
em 2014.16
O fato de que até maio de 2012 41% das obras para a Copa do
Mundo ainda não tivessem começado,17 levou o Governo Federal
a mudar seus procedimentos para a aprovação de projetos com
um “estatuto de excepcionalidade”, criado para aumentar a
velocidade de aprovações para projetos de infraestrutura da Copa
do Mundo 201419. Consequentemente, as empresas de construção
usarão de forma oportuna essa situação a seu favor para fixar os
custos das licitações oficiais acima do seu valor, resultando em
gastos excessivos que terão de ser pagos pelo governo brasileiro
com fundos públicos.
A Andrade Gutierrez está envolvida na construção do Estádio
Nacional, Mané Garrincha (Brasília), da Arena Amazonas
(Manaus), do Estádio Beira-Rio (Porto Alegre) e do Estádio do
16 Ministério dos Esportes. 2010. ‘2014 World Cup in Brazil,
Economic Impact’. 31 de março de 2010 apresentação de
PowerPoint. http://ebookbrowse.com/brazil-2014-world-cupeconomic-impact-study-p... (acessado em 22 de abril de
2013)
17 http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2012/05/23/41-
das-obras-da-copa-do-mundo-de-2014-ainda-nao-comecaram-segundogoverno-federal.htm (acessado em 24 de abril de 2013)
http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/comissaodo-senado-aprova-p... ; e http://oglobo.globo.com/esportes/fifa-voltaalertar-que-nao-permitir...
7883384
Maracanã (Rio de Janeiro). A Odebrecht está também envolvida
na construção do Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro), do
Estádio da Fonte Nova (Salvador), da Arena Pernambuco (Recife)
e do Itaquerão (São Paulo). As duas empresas são responsáveis
por 7 dos 12 estádios da Copa do Mundo.
TABEA 2: PROGRESSÃO DE ESTIMATIVA DE INVESTIMENTO NOS ESTÁDIOS DA COPA NO BRASIL
Estádio (Cidade Sede)
SINAENCO20
Julho 2010
Ministério dos Esportes
Setembro 2011
Ministério dos Esportes
Novembro 2012
TCU – apud
Konchinski
Junho 2013
Mineirão (Belo Horizonte) 408,3 mi R$ 684,1 mi R$ 695 mi R$ 695 mi
Mané Garrincha (Brasília) 740,0 mi R$ 671,2 mi R$ 1015,6 mi R$ 1,7 bi*
Arena Pantanal (Cuiabá) 440,0 mi R$ 596,7 mi R$ 518,9 mi R$ 525 mi
Arena da Baixada (Curitiba) 172,1 mi R$ 220 mi R$ 234 mi R$ 234 mi
Castelão (Fortaleza) 623,0 mi R$ 486 mi R$ 518,6 mi R$ 519 mi
Arena Amazônia (Manaus) 500,0 mi R$ 533,33 mi R$ 583,4 mi R$ 583 mi
Arena das Dunas (Natal) 350,0 mi R$ 400 mi R$ 417 mi R$ 417 mi
Beira Rio (Porto Alegre) 130,0 mi R$ 290 mi R$ 330 mi R$ 330 mi
Arena Pernambuco (Recife) 520,0 mi R$ 494,2 mi R$ 500,2 mi R$ 532 mi
Maracanã (Rio de Janeiro) 600,0 mi R$ 859,9 mi R$ 882,9 mi R$ 1,2 bi
Fonte Nova (Salvador) 589,5 mi R$ 591,7 mi R$ 591,7 mi R$ 689 mi
Itaquerão (São Paulo) 335,0 mi R$ 820 mi R$ 820 mi R$ 820 mi
Total R$ 5,4 bi R$ 6,6 bi R$ 7,1 bi R$ 8,3 bi
Embora tenhamos usado fontes confiáveis para obter os
custos dos estádios, os números podem variar ou serem
inconsistentes. A fonte mais confiável para as estimativas
originais de custo de cada um dos estádios está no Brazil
2014 Bid Book. Porém, o Brazil 2014 FIFA World Cup bid
Book não é divulgado publicamente (assim como todos os
bid books) não sendo assim possível consultar os custos
originais para cada estádio. No entanto, é razoável supor
que já que o Brazil Bid Book foi enviado à FIFA até 31 de
julho de 2007 e que a Equipe de Inspeção da FIFA realizou
a visita de inspeção em 23 de agosto de 2007, o valor
constante neste relatório de U$ 1,1 bilhões para todos
os estádios reflete os números originais do Bid Book.22
___________________________________________________________
20National Association of Architectural and of Consulting Engineering Companies – Saiba mais
em: http://www.sinaenco.com.br/texto_ingles.asp#sthash.axCx7pjz.dpuf
http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2013/06/24/dilma-ise...
22 FIFA. 2007. Relatório da Equipe de Inspeção da FIFA.
O Relatório de Inspeção da FIFA de 2007, subestimou assim
grosseiramente o custo para os estádios da Copa do Mundo no
Brasil que aumentou de U$ 1,1 bilhões em 327% em 2013, chegando
a absurdos U$ 3,6 bilhões. O aumento dos custos do Estádio Mané
Garrincha (Brasília) e do Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro)
mais do que dobraram desde 2010 e somam cerca de R$ 2,9 bilhões
ou U$1,3 bilhões. Somente estes dois estádios custam mais do que
a estimativa original de U$1,1 bilhão para todos os estádios da
Copa do Mundo FIFA.
Tabela 3: Custos dos Estádios da Copa do Mundo FIFA em dólares americanos
País Custo U$ U$2013
França(1998) 700 000 000 1 002 230 309
Coreia do Sul (2002)
Alemanha (2006)
África do Sul (2010) 2 500 000 000 2 676 326 880
Brasil (2014) 3 600 000 000 3 600 000 000
Japão (2002) 4 000 000 000 5 188 851 319
2 000 000 000
2 200 000 000
2 594 425 659
2 585 672 950
A Tabela 3 compara os custos totais dos gastos com estádios
em determinados países que sediaram a Copa do Mundo FIFA com
valores em dólares americanos conforme o câmbio atual. Em
1998 a França sediou o evento ao custo de U$1 bilhão para a
construção de estádios. Em 2002 a Coreia do Sul e o Japão
alegam ter gasto $ 2,6 bilhões e $ 5,1 bilhões respectivamente
com estádios, enquanto os custos de construção dos estádios
na Alemanha foram de $ 2,6 bilhões. A África do Sul gastou
R 17,4 bilhões ($2,7 bilhões) com os estádios da Copa do
Mundo23. O Brasil gastou até o momento U$ 3,6 bilhões somente na
construção e reforma dos estádios.
Rumo à uma investigação sobre cartel no setor de construção
Este mês o Congresso Brasileiro deve decidir se investiga
ou não os gastos excessivos com os estádios e as alegações
de corrupção. O pedido de investigação veio do “senador
Álvaro Dias, do principal partido de oposição, o PSDB, que
inicialmente solicitou a investigação” como resposta às
exigências dos manifestantes brasileiros nas ruas.
23
Patrick Bond e Eddie Cottle. 'Economic Promises and Pitfalls of South Africa's World
Cup'. In Eddie Cottle (ed) South Africa's World Cup: A Legacy for Whom? UKZN Publishers,
South Africa. 2011.
Acreditamos que há motivos suficientes para o governo brasileiro
abrir uma investigação completa sobre as operações de um cartel
de construção; o Relatório do Comitê de Concorrência da OCDE, a
evidência irrefutável do Relatório da Comissão de Concorrência
da África do Sul, especialmente em relação à Copa do Mundo FIFA
2010 e os aumentos abusivos de custos dos estádios do Brasil
quando comparados com o Relatório da Equipe de Inspeção da FIFA
de 2007.
Ainda mais uma motivação para o necessidade de tal investigação
é a recente decisão por parte do Estado de São Paulo de “abrir
esta semana um processo contra a Siemens AG (SI) para tentar
recuperar o dinheiro que a empresa supostamente superfaturou do
Estado pelos trens vendidos por um consórcio para cidade e redes
de transporte regionais”.25 Neste último caso, deverão demonstrar
a necessidade de garantir que o Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE) envolvido na investigação da
Siemens estenda sua investigação ao setor de construção. Tal
investigação sobre os negócios do cartel de construção não
deve se limitar às empresas brasileiras, mas deve também se
estender as empresas internacionais envolvidas em atividades de
construção civil relacionadas.
Por fim, é necessário que o governo brasileiro responda aos
apelos da sociedade civil por mais transparência na prestação de
contas e nos assuntos relacionados à Copa do Mundo FIFA 2014 e
que divulgue publicamente o Bid Book brasileiro oficial.
Referencias
24 Brasília. 2013. 'Brazilian Congress to investigate
ballooning World Cup costs' Reuters, 17 de julho http://
uk.reuters.com/article/2013/07/17/soccer-brazil-worldcup-costidUKL1N0FN2B120130717 . O PSDB é o Partido da Social Democracia
Brasileira.
25 Wall Street Journal. 2013.‘UPDATE: Brazil's Sao Paulo State
to Sue Siemens Over Train Cartel’ 14 de agosto.
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