Informação do seu jeito
O Tango conhecido na voz romântica e triste de Carlos Gardel, ao expressar uma das facetas do povo argentino e do mundo europeu, tem recebido substanciais pesquisas que atestam as influências da musicalidade afro-americana em sua formação. O reconhecimento de que as danças e as canções africanas nas Américas moldaram aquilo que denominou-se de Tango é um dado irrecusável. O Tango é negro! Esta é mais uma justiça histórica a favor das civilizações que formaram o mundo como o conhecemos.
A dança corporal que comunica entrelaçamentos e desejos, é a dança da aproximação, do toque e do convívio. A música e a poesia navegam melancolicamente na dança da sedução e do compartilhamento. È isso que significava o Tango para os africanos na América. No baile dos negros dançava-se Milonga como se fosse Tango, como nos diz Roberto Selles no livro “A história do Tango – La Milonga. Muito se festejava na Bacia do Plata enquanto morriam caudalosamente no barco ou no galpão, na guerra ou de doença, como ainda se morrem negros que dançam...
Este não é um debate pacífico, entretanto, a influência das manifestações culturais africanas, desde o Candombe (Batuque dos negros do Rio do Prata), o Tangano (origem Banto da palavra quilombo), até a Milonga e a Habanera (danças e músicas negras e caribenhas praticada no Rio do Plata), permeadas por suas corruptelas, hibridismos e recomposições plasmaram o Tango moderno. Levado para Europa no início do século XX foi adaptado a novas formas e instrumentos. Sofreu influências da musicalidade européia – Polca, Mazurca e o Tango Andaluz, e aqui nas Américas a musicalidade brasileira na Bacia do Plata, o toque do tambor e das tanguerias converteram-se na dança esquemática e erudita da alma portenha. Suaorigem etimológica está na corruptela da palavra Tambor (que também é uma corruptela de shangó) e era o lugar onde os negros cultuavam os Candombes e a Milonga.
Já Oscar Natale, em seu livro “Buenos Aires, Negros y Tango” menciona que, desde as sociedades de negros mutualistas, perseguidas pelo Estado Argentino, entusiasmado pelas doutrinas raciológicas já se defendia abertamente o atavismo e a inferioridade dos hermanos do Plata, isso foi visto, por exemplo, na ação do governo de Martín Rodríguez em 1821 quando propôs a regulamentação dos bailes de Tambor, impedidndo sua proliferação.
Todas as sociedades são sociedades multiculturais e o nosso desafio é assegurar meios, os mais criativos e emancipatórios, de se viver e ter uma vida digna nos lembrando de onde viemos e o que queremos. Como Zumbi nunca morre e nunca deixa de lutar por seus ideais de liberdade e justiça, inspiremo-nos no Tango que compartilha laços após cotidianos dissabores. Se nada aprendemos com o Tango nas últimas dezenas de anos e não soubemos dançar o compartilhamento numa região onde milhões foram massacrados, dancemos o Tango, com Zumbi, Gardel e Ban Ki-Moon no Ano Internacional da Afrodescendência no mais inebrioso dos perfumes de uma vida plural e justa!
Sérgio São Bernardo, Advogado, Mestre em Direito Público-UNB e Professor da Uneb.
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Obrigada por este post, Prof. Sergio Sao Bernardo, e desculpe o meu portugues, e falta de acentos. So quis acrescentar uma referencia sobre o assunto: o lindo livro do historiador de arte Robert Farris Thompson, professor da Yale University, entitulado (infelizmente so em ingles, pelo que saiba): Tango: The Art History of Love (Tango: A Historia de Arte do Amor). Diga-se de passagem que foi o Thompson que escreveu o erudito Flash of the Spirit: African and Afro-American Art and Philosophy. Em todas as suas obras, realca-se o contributo estetica e intelectual dos povos da Africa nas zonas que deram populacao ao "Novo Mundo". Geri Augusto, Brown University
PERFEITA AVALIAÇÃO QUE PASSEIA PELOS TOQUES DOS BATUQUES ORA SAGRADOS DOS NEGROS QUE HABITAM E HABITARAM E HABITARÃO O GLOBO TERRESTRE E VIVA A MÚSICA DO MUNDO.
Muy cierto lo que aqui se plantea, el tango en mi país nació en los arrabales, en la zona mas pobre de Buenos Aires, en los conventillos y Carlos Gardel era conocido como "El morocho del abasto" haciendo referencia a su color de piel y al lugar humilde que vivía.
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