Meu nome é Ane Carine Conceição Rosas, sou uma mulher negra, mãe, adepta dos cabelos dreads locks (comumente confundido com o Rasta), residente no bairro da liberdade, membro do coletivo LIBERTAI e estudante do curso de Pedagogia da Universidade Federal da Bahia.
Me apresento antes para que percebam que as minhas ações são provenientes de um contexto social e são eminentemente políticas, logo escolher o curso de pedagogia depois de quase uma década de tentativas de adentrar a universidade pública veio da constatação de que ser uma educadora é muito mais que transmitir conteúdos,impor disciplinas ou atribuir valor as atividades. É munir os indivíduos de subsídios para que seus direitos não sejam usurpados e sejam agentes da construção histórica, seja ela individual e/ou coletiva. E essa constatação não poderia ter vindo de forma mais adequada e necessária, pois ler a importância do ato de ler de Paulo Freire mostrou-me o quão é importante e o quanto pode ser eficaz uma atuação docente política, que respeite os indivíduos em suas diversidades e diferenças e suas histórias de vida.
Não digo com isso que a professora é um ser perfeito, nem muito menos que tenha que aceitar ou gostar de tudo que diga respeito aos estudantes, mas como já foi citado o respeito é o que rege ou deveria reger as relações humanas.
Diante deste meu posicionamento jamais passou pela minha cabeça sofrer qualquer tipo de constrangimento em uma sala de aula onde são formadas “futuras” educadoras, mas mesmo sem esperar por ele eis que chegou. O ocorrido aconteceu no dia 05 de março de 2012, início das atividades de 2012.1, na Faculdade de Educação com o professor Washington da Encarnação Bacelar, onde este dissertava, na aula de Estágio 1, sobre o vestuário adequado para apresentação nas escolas que iriamos fazer as observações. Até aí tudo ia bem, até que o assunto chega a aparência física e o professor sem nenhum tipo de receio larga que o cabelo dread tornava um amigo pessoal “lindo” em uma pessoa “horrível”. Achando insuficiente, este virou para mim e questionou-me sobre os meus métodos de higienização capilar, afirmando que haviam pessoas que possuem dreads e que não lavam, o que demonstra um grande equívoco (ignorância), esse foi o fato mais agravante, pois a aula foi repleta de posicionamentos preconceituosos e porque não dizer: RACISTAS.
Fico pensando como seria se eu não estivesse ali - para esclarecer que atos de higiene acontecem independente do penteado que se usa, pois é algo altamente subjetivo e não é identificado facilmente através apenas da visão - com certeza as pessoas ali presentes, que não me conhecem muito, levariam consigo a certeza, talvez dúvida, que pessoas com dreads não lavam seus cabelos. E fica alguma dúvida da forma como se daria a relação dessas educadoras com seus educandos com cabelos dreads? Para mim nenhuma.
Não quero nem estou dizendo que ele ou ninguém seja obrigado(a) a gostar do meu cabelo, assim como não sou obrigada a gostar dos outros penteados, mas exijo respeito a minhas escolhas.
Com esse desabafo, quero convidar todas e todos a comparecerem ao ato público que ocorrerá na Faculdade de Educação, no vale do Canela, a partir das 8:00 da manhã, se estendendo até a noite.
Axé
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