Informação do seu jeito
Na noite da última quarta-feira (16), na Escola de Teatro da UFBa, no Canela, o jovem Eduardo Nunes, 27, foi agredido verbalmente e fisicamente pelo professor alemão (aposentado) Edward Hackler. Segundo o estudante do módulo VII-Licenciatura e coordenador geral do Diretório Acadêmico da Escola (DA), o caso aconteceu durante a realização da calourada que estava sendo preparada pelos alunos vetereanos, em acordo com a direção da unidade.
“Além disso, os professores entraram em acordo com os alunos que abririam mão da primeira semana para podermos realizar a calourada. No entanto, quando estavámos começando a confraternização, o professor Hackler veio de forma agressiva e autoritária e agrediu verbalmente a maioria dos alunos presentes. Falou de forma agressiva, dizendo: ‘delisga essa zorra agora’”, relata. O estudante conta que quando se direcionou ao computador no intuito de mediar a situação, o professor jogou o aparelho no chão, e “usou a fiação como arma para me agredir”.
Segundo Eduardo, a situação só não foi mais agravante por que os estudantes, prestadores de serviço e professores intervieram. Duas horas após o ocorrido o jovem agredido prestou queixa na 1ª Delegacia Civil, no Barris, e denunciou o professor Edward Hackler por agressão moral e física. Na manhã de ontem (17), os estudantes se reuniram com a direção da Escola de Teatro da UFBa para exigir uma postura desta com relação ao ocorrido. “Após a reunião, eles solicitaram que enviassémos uma carta oficial relatando o fato, assim como o professor Hackler deverá enviar uma também”, destaca Eduardo Nunes.
Em carta aberta, o DA e os estudantes da Escola destacam que se sentem agredidos pela falta de respeito e intolerância e esperam as providências cabíveis. “Esta situação não passará em branco e esta unidade tem o dever moral de prestar satisfações aos estudantes e se no fim de tudo nada absolutamente for feito, não haverá condição alguma deste diretório acadêmico, bem como o corpo discente, manter relações cordiais com esta instituição. É certo que na maioria das vezes as relações entre discentes e docentes nesta unidade são pacificas mas, silenciar diante do que ocorreu soará como conivência”, trecho da carta.
O estudante agredido Eduardo Nunes acredita que há uma grande possibilidade que a impunidade prevaleça no caso, principalmente no se refere à questão institucional. “A direção da Escola tende a empurrar as coisas com a barriga. Eles argumentam que o professor Hackler por ser aposentado não poderia ser penalizado, mas não deixaremos isso ficar impune. Não há mediação quando uma agressão existe, seja racial, homofóbica, qualquer tipo de agressão não é aceitável”, sinaliza Nunes.
Ato de Protesto
Amanhã (18), às 12h, os estudantes da Escola de Teatro realizarão um ato performático na instituição (Canela) contra a atitude do professor alemão Edward Hackler.
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CARTA ABERTA DO PROF. EWALD HACKLER DA ESCOLA DE TEATRO DA UFBA
"20 de março de 2011
Caro Eduardo Nunes,
escrevo essa Carta Aberta para me posicionar ao incidente no jardim da Escola de Teatro da Ufba, instituição a que tenho dedicado quase 40 anos, a maior parte da minha vida. Tendo ensinado, fora do meu trabalho como diretor teatral e cenógrafo, a centenas de estudantes da graduação e pós-graduação, orientado inúmeros trabalhos finais, e até hoje ainda oriento teses de doutoramento e dissertações. Faço isso, não para levar um dinheiro extra, porque não há remuneração. Faço porque julgo importante formar gente qualificada para melhorar o nível da universidade. Não tenho conhecimento de nenhum estudante sequer, nesses 40 anos, que me acusaria de tê-lo tratado com desatenção ou deslealdade.
É não apenas contra a verdade dos fatos que você se manifesta, mas também contra um currículo de 40 anos. Você estuda numa instituição que foi criada, mantida, melhorada e ampliada por todo um grupo de professores, funcionários e com a colaboração importante dos estudantes, os quais, todos eles dedicaram muito esforço e trabalho nessa tarefa, que muitas vezes parecia impossível.
Eu apenas sou um deles. E digo-lhe com toda a sinceridade:
Que não é verdade que proibi no final da dita festa a reprodução sonora de qualquer tipo de música, seja de que gosto for;
Que não é verdade que o incidente ocorreu uma hora antes do meu ensaio, mas sim que cheguei à Escola em cima do horário;
Que não é verdade que quebrei seu computador ou de qualquer outra pessoa;
Mas quando vocês responderam ao meu pedido de baixar o som, para possibilitar o ensaio, em vez de atender à minha solicitação, vocês aumentaram o som ao máximo. Aí, sim, tirei, sem mexer na aparelhagem do som, o fio da tomada e joguei-a longe. Se você alega que o referido fio tenha sido acertado em você acidentalmente, eu nem poderia confirmar, nem negar, pois não vi. Porém de ter sido batido por mim com o dito cabo, como você divulga, até lá me parece um caminho longo – muito longo.
Interessante é a construção da sequência das suas alegações, “Professor chega uma hora antes do ensaio”. Essa afirmação induz a pensar que o professor é tão autoritário que exige o fim da música imediatamente; “O professor agrediu utilizando o cabo do Notebook como arma e jogando o aparelho no chão”. Logo, segundo a afirmação, se ele é capaz de quebrar o computador, ele também é capaz de bater no aluno ou espancar ou açoitar, como acaba por ser divulgado e comentado nas redes sociais, conforme me refiro mais adiante.
No Facebook as suas alegações são mantidas, agora de maneira dramatizadas e acrescentadas com essa manchete: PROFESSOR ALEMÃO BATE EM ESTUDANTE NEGRO DA ESCOLA DE TEATRO NA (sic) UFBA . Pronto. Você chegou ao ponto onde queria desde o início da sequência. O incidente se transforma num ato de racismo violento: crime não afiançável.
Eu não conhecia até então, nem Facebook nem outros sites. Fiquei impressionado. Na subsequente discussão com centenas de entradas, as suas versões foram discutidas sem uma só pessoa participante ter a decência de me ligar e me perguntar o que tinha acontecido, na minha ótica.
A sua manchete, em estilo da imprensa marrom, ganha vida própria, com a entrada dos habituais tribunos do povo – autoproclamados - e dos incendiários notórios. A discussão tornou-se um pandemônio do obscurantismo latente nessa cidade. A estação do linchamento é declarada aberta! Só esqueceram de colocar o preço da minha cabeça: “Queridos, estou revisando A criação, e é impressionante como Herr Hackler nos acha ignorantes, feios, limitados”. Mas não vou aprofundar esse ponto. Não estou no humor de mexer em mais sujeira.
Caro Eduardo Nunes,
parece que você quer fazer limonada, “ups”, política, com o que não tem. Porque você age como embusteiro que se quer passar por vitima de racismo.
Você não me conhece. Não sabe nada da minha vida. Por isso, vou esclarecer um ponto, antes de nós avançarmos, impensadamente, na via que você iniciou. Quando viajei para rever a terra onde nasci, descobri com espanto o pouco que tinha ficado das minhas origens. Curiosamente era a memória da infância durante a época do regime hitlerista. Ao meu inimigo mais íntimo eu não consigo desejar a desgraça de viver num estado totalitário, que treinava, já no pré-ensino e na escola primária, as crianças no racismo e em todas as formas de discriminação. Não apenas contra judeus. A ideologia incluía como alvo todo um leque de etnias, nacionalidades, grupos sociais e religiosos. Só quando cresci, compreendi que não tinha resistido à nefasta propaganda por mérito próprio. Foram meus pais que me orientaram e salvaram.
Preservei para sempre esse legado da minha família, como o bem mais precioso que deixaram para mim. Nunca exibi esse dado. E agora falo disso com certa dificuldade e desgosto. Porque é algo muito intimo. Ao ser forçado a tocar numa estória tão distante é o que mais me fere nesse episódio.
Mas apesar de tudo isso, sou otimista invariável. Durante os quarenta anos vi tantos alunos me surpreenderem quando, inesperadamente, ganharam autonomia crítica e iniciativa própria do raciocínio.
Por isso acredito que um dia, talvez, vamos nos encontrar, no mesmo lado da fronteira. Depois de tantos erros e acertos que nos separam hoje.
Atenciosamente,
Fonte: http://www.facebook.com/note.php?note_id=203182613034280&commentsEWALD HACKLER"
Estudei na escola de Bellas Artes da Ufba e fiz algumas disciplinas na escola de Teatro.
Tive o desprazer de me aproximar do então professor Ewald Hackler, pelo fato de admirar os trabalhos dele como cenógrafo e diretor.
Ele é um indivíduo, arrogante, mau educado, desequilibrado e muito difícil. Até iniciei um trabalho como assistente dele para cenografia do espetáculo Casa de Eros, dirigido por José Possi Neto. Fui salvo por uma instituição de São Paulo que me convidou para ilustrar e fazer o projeto gráfico de um livro com uma remuneração muito superior ao que a produção do espetáculo me pagaria.
Felizmente não tive que engolir aquele sapo.
Senhor Edward? que exemplo de violência! essa atitude dentro de uma Escola de teatro está fora do contexto.
Acho que o Senhor já deu o que tinha pra dá, vai curti sua aposentadoria nos campos de concentração nazis.......
nossos jovens precisam de educadores e não de torturadores, cai fora.
É isso aí Liu Nzumbi!
Depois de ler o seu comentário não tenho mais nada a dizer.
Concordo plenamente com a sua reflexão e com o chamado aos nossos irmãos à não se curvar diante de qualquer forma de opressão.
Um abraço.
Não entendi a preocupação de Edu com o teor da matéria do Correio Nagô muito menos a postura extermamente defensiva de Juliana Dias. O caso é sim de agressão com viés racial, não adianta querer aliviar a barra do professor Hackler, conhecido na escola por sua postura arrogante de acadêmico europeu irritadiço com os discentes negros e mestiços que é obrigado a aturar embora já aposentado e ocupando um lugar de um profesor mais jovem quem sabe, um professor negro e cotista.
Todos os militantes negros sabiam que a implementação de ações afirmativas na UFBA desencaderiam reações como essa por parte dos professores racistas desta instituição. Estes, no passado, não precisavam mostrar as garras tão abertamente embora estivessem sempre afiadas contra qualquer preto ousado que os desafiassem.
Agora, com os pretos cotistas invadindo os corredores e salas da Federal, eles saem da toca como feras para demarcar um território que consideram como exclusivo deles e de seus filhos, parentes, aderentes e amigos. Edu, não importa se o professor é alemão ou brasileiro, como por exemplo, o professor de medicina que tb discriminou os cotistas. Um racista é sempre um racista, um criminoso de acordo com a lei maior do país, que deve responder por seus atos na justiça. Ou você, Edu, tem tanto medo da reação do status quo da UFBA, que acha que esse incidente deve passar em "branco"?
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