SEXISMO E RACISMO DÃO TAPA EM NAIROBE AGUIAR E NA NOSSA CARA!

 

Carta de Nairobe Aguiar,vítima de VIOLÊNCIA

 

Quando racismo e sexismo se encontram na UNIJORGE     Carta aberta ao Movimento Negro, Movimento de Mulheres Negras e Movimento Feminista     Comunico às organizações de Movimento Negro, Mulheres Negras e Feministas que eu, Nairobe Aguiar, estudante do quinto semestre de História UNIJORGE, Centro Universitário Jorge Amado, fui agredida com uma tapa na cara por um colega, componente da organização do Simpósio de História “Pesquisa Histórica na Bahia” na referida faculdade.

 

Inicialmente, estávamos organizando conjuntamente a coordenação do Curso, o Simpósio de História, que da noite para o dia, fomos tirados da construção, sob a justificativa de que o evento não deveria ter envolvimento do movimento estudantil, em tempo, de um dos palestrantes, e ainda, que não assinaríamos os certificados, visto o evento estar sob a responsabilidade da instituição. No dia anterior ao fato, encontramos esse grupo de estudantes com a camisa de organização do evento (até então da universidade), fizemos algumas intervenções, falando sobre a institucionalização daquela atividade, proposta pelo movimento estudantil, e sobre a apropriação intelectual da mesma.   

 

Com efeito, isso causou um forte incômodo à organização do evento. Quando cheguei à atividade, no dia seguinte, fui impedida de assinar a lista de presença, que me legitimaria a ganhar o certificado de carga horária do evento. Todas as pessoas assinaram, na minha vez, a organização da atividade recolheu a lista, e eu perguntei num tom alto, no meio da palestra: por que vou assinar a lista lá fora, já que todos assinaram aqui dentro?  Na mesma hora, todo mundo parou e me olhou. Esperei o evento acabar, chamei a coordenadora do curso para pedir explicação, a mesma não deu atenção, assim não comunique o ocorrido.

 

Quando saí do evento, me dirigi até LUCAS PIMENTA, o agressor, e perguntei: posso assinar a lista? Ele disse: “você é muito mal educada!”. O interrompi, e falei: não quero te ouvir, só quero saber se posso assinar, caso contrário, vou conversar com a coordenação. E ele disse: “Você tá tirando muita onda, não é de agora que eu tô te aturando!” E me deu UMA TAPA NA CARA! Quando falei que Eu, oriunda do movimento negro, do movimento de mulheres negras, não deixaria barato, que iria acionar a lei Maria da Penha, ele se curvou e foi segurado pelos colegas ao tentar me dar murros. Ao  dizer, “você tá tirando muita onda,”   em seguida, me agredir, o Sr Lucas Pimenta  revelou  um sentimento de insastifação, não apenas de Lucas, mais de muitos(as) outros(as), diante do fato, de ser eu, mulher e negra, Coordenadora Acadêmica no CA de História da Jorge Amado.

 

O fato de estarmos adentrando o espaço acadêmico por si só, já fez membros da elite branca, sobretudo, masculina, sentir-se ameaçada. Uma tapa na cara vem em retaliação a um fato, mais insuportável ainda, para Lucas e demais membros da elite racista-sexista desse país: sou mulher negra, favelada, jovem e o represento num espaço onde o projeto genocida de Estado brasileiro historicamente  reservou para o segmento branco.  Sei, que no fundo,  a intenção de Lucas e outros racistas violentos, lotados na academia, não é apenas dar um tapa na cara de cada preta(o), mas barrar a nossa entrada e ascensão nesses espaços.

 

Enfim, nos eliminar fisico-espiritualmente. É por isso, que o racismo e o machismo se articulam o tempo todo para impedir que pessoas como eu (preta estilo favela!) não possam representar uma pequena minoria do curso de história (brancos, e classe média). Atualmente, ocupo a posição de Coordenadora Acadêmica do Centro Acadêmico União dos Búzios, representação legítima dos estudantes do curso de história dessa Instituição – por isso, a agressão que sofri ganha um peso simbólico mais complicado. Estaria tudo bem, se eu ocupasse um lugar na senzala, se eu estivesse na favela, esperando a hora de visitar meu companheiro na prisão ou compondo manchete na página policial. Mas, como eu e várias (os) irmãos não nos curvamos, eles reagem dessa forma.

 

Sei que a tapa na cara e a expressão “você tira muita onda,’ quer na realidade perguntar: “quem é você, sua neguinha ousada e Insolente? Tal episódio poderia acontecer com qualquer outra irmã que desafiasse confrontar politicamente um membro da elite branca desse país racista, machista e homofóbico  Por isso, conclamo meus irmãos e em especial às minhas irmãs, para amanhã, na extensão desta atividade, manifestarmos politicamente nosso repúdio. O Simpósio começa ás 18h:30. O procedimento legal está sendo encaminhado. Espero não apenas uma resposta legal, mas que a Unijorge responda administrativamente com medidas reparatórias a esse caso de Violência contra a mulher. Na fé! Tamu juntu!

Por: Carla Akotirene Santos

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Comentário de PATRICIA PINHEIRO em 21 março 2013 às 11:02

MINHA AMIGA, ESTE SOBRENOME É CARREGADO DE HISTÓRICO PRECONCEITO RACIAL EM VÁRIAS ESFERAS DO PODER.

 

ANTIGOS SENHORES DE ESCRAVOS - LATIFUNDIÁRIOS- MEMBROS DA ARISTOCRACIA BAIANA, POLÍTICOS, QUE SE  MANTÉM NO TOPO DESTA CADEIA ALIMENTAR! NÃO É O PRIMEIRO NEM SERÁ O ÚLTIMO DA FAMÍLIA A SE COMPORTAR DESTA FORMA. ISTO É TÍPICO DOS QUE ACHAM QUE " ESTÃO NO PODER"

Comentário de Maria Olina Souza em 10 maio 2011 às 18:35
Carlos, ou vc não mora no Brasil ou vc não é negro!
Vc se coloca em um patamar superior para falar com negros, não fala como um irmão, como assim só uma negra tem o staff para estar no projeto do teu amigo?
Como assim somos um grupo ideologicamente forte?
Somos empobrecidos pelo colonialismo, e pela política de embranquecimento, somos "os condenados da terra" (Ver Fannon, e todas as pesquisas de institutos sérios) pela nossa cor.
Qd falo 70% de negros, digo à vc que todos os cordeiros são negros segurando a corda para branco dançar....ou não?
Qd falo que 70% são negros , refiro-me ao elevado nº de negros jovens , como você(?)que são exterminados aí em Salvador, ou naõ?
Vai procurar a história negra baiana, "A revolta dos Malês" , vai ler bons livros que contam a verdadeira história.
Como assim vc nos fazer enxergar, que somos nós os racistas?
De que representação política vc fala? Qts negr@s são vereadores, deputados ?
Como assim abram os olhos? Já estão abertos e graças as Nairobis que lutam para que outr@s negros ascendam socialmente e para que não precisem ser julgadas "sem staff".
Você me fez entender que a Nairobi tem razão, perdeu-se no seu ensaio de defesa.
Que os orixás te protejam de ti mesmo.
Comentário de Nilton Gonçalves em 7 maio 2011 às 16:23
Porque algumas pessoas que postaram comentários sendo solidário com o agressor não mostram a cara?
Eu fico intrigado com isso,pq a maioria das pessoas não mostram a cara,no perfil não tem foto,o que e' isso alguem me explica?
Comentário de Maria Olina Souza em 5 maio 2011 às 22:01

Carlos, pelo que sei na Bahia existem aproximadamente 70% de descendentes de africanos e o seu amigo só  convidou uma  negra?

 

Comentário de Maria Olina Souza em 4 maio 2011 às 18:11
Quando vc diz que a discussão poderia ter acontecido com qquer pessoa de qualquer cor, entendo que vc acredita que vive em uma democracia racial, sem conflitos entre raças...Como pode querer que eu não contextualize historica e socialmente uma cena desta?
Vc é inocente ou o quê?
Graças a espaços como estes e jovens como Nairobe que o povo negro recupera sua dignidade. Vc pode estar culpando a vítima...se liga.
Comentário de Maria Olina Souza em 4 maio 2011 às 11:19
Parabenizo ao correio pelo respeito aos princípios democráticos, desta forma entendo que haviam outras pessoas que ao assistirem a discussão/agressões(?) poderão orientar a justiça.
Ao Carlos Portilho eu digo que entendo e aprovo ideais de solidariedade e justiça e é exatamaente neste sentido que peço-lhe para estudar a história do Brasil (dominadores e dominados), conceitos de minorias, psicologias do racismo, antes de emitir uma opinião contra ele mesmo.
A recorrência de episódios racistas e sexistas , no entanto , vivenciadas e observadas ao longo de 50 anos me permitem entender como é que esta sociedade funciona.
De resto é torcer para que o racismo institucionalizado não se revele fazendo do "guri" um herói perseguido por um bando de negros , como direi...confusos!
Comentário de Instituto Mídia Étnica em 3 maio 2011 às 11:40

Respeitando o princípio democrático de apresentar as duas versões dos fatos, postamos aqui no CORREIO NAGÔ texto do Sr. Lucas Pimenta. O espaço continua aberto para novas manifestações dos envolvidos.

 

“CARTA ABERTA À COMUNIDADE

Estou utilizando esta mensagem para tentar restabelecer a verdade dos fatos em relação às acusações que me foram feitas. Acusações infundadas e que estão afetando a minha vida e a vida de minha família.

Trabalhei no SIMPÓSIO DE HISTÓRIA promovido pela Coordenação do Curso no CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO, pois acredito que eventos como estes permitem a mim e a meus colegas crescimento e aperfeiçoamento. Não me envolvi em nenhum dos aspectos políticos do evento, mas para eles fui arrastado em função do incidente ocorrido na instituição.

No segundo dia do Simpósio, recebemos a orientação da coordenação de que quem chegasse atrasado deveria assinar a lista de presença após o fim da palestra, para que não houvesse interrupção da apresentação do palestrante. Apesar desta orientação, a aluna do 5º semestre de história, mesmo tendo chegado atrasada exigiu assinar a lista de presença, gritando o meu nome dentro do auditório.

Retirei-me do auditório para que a confusão não interrompesse a palestra e um tempo depois a mesma aluna se dirigiu a mim com o dedo em riste na minha cara me chamando de “vagabundo, moleque de recado da coordenadora do curso”. Retruquei aos impropérios dizendo que ela estava sendo mal educada e ela elevou o tom de voz aproximando ainda mais o dedo de minha cara. Recuei, em atitude defensiva, afastando o dedo dela de meu nariz e pedindo que ela falasse baixo, quando a mesma, após este ato, começou a gritar descontroladamente, tentando-se fazer-se de vítima na lamentável situação que causara, dizendo que lhe desferir um tapa no rosto, sendo que o único contato físico foi ao afastar o dedo em riste, não passando sequer perto do rosto, passando longe do rosto dela, e ao me retirar ele desferiu em minhas costas uma série de tapas e disse que me acionaria pela lei Maria da Penha.

Acreditei que aquele infeliz evento seria resolvido dentro da universidade, através das normas estabelecidas pela instituição, mas a partir do dia seguinte fui surpreendido com diversas ameaças e mensagens discriminatórias, dirigidas a mim pelo meu perfil no Facebook – ameaças sérias e que me levaram a temer retornar a minhas atividades acadêmicas, a ir para escola onde estou estagiando e sair nas ruas. Em seguida, descobri que a aluna havia publicado em alguns blogs uma carta aberta me citando como agressor, racista e sexista, representante de uma elite branca masculina.

Além de me acusar de uma agressão que nunca ocorreu, como as testemunhas presentes poderão comprovar, atribuiu a mim palavras que eu não disse e deu a estas palavras a interpretação que lhe pareceu mais conveniente. A aluna também foi a um programa de TV de grande audiência, o “Hoje em Dia”, da TV Itapoan, repetir as afirmações a meu respeito, fazendo o dano já causado a mim, atingir também minha família.

Estou sendo julgado publicamente a partir apenas da acusação desta aluna, sem qualquer direito de defesa por não dispor dos contatos e recursos que ela possui em função de sua posição no CENTRO ACADÊMICO (C.A) e atividade profissional. Entendo a importância do C.A como interlocutor legítimo dos estudantes e também entendo que em função disto o C.A possa divergir da coordenação do curso, mas não entendo, e nem posso aceitar, que meu nome e o nome de minha família sejam utilizados como instrumento político no embate entre o C.A e a coordenação do curso.

A estudante afirma que eu pertenço a uma elite branca e masculina a partir exclusivamente da cor de minha pele e do fato de eu ser homem. A mesma não me conhece, não faz a mínima idéia de que não sou rico (fato facilmente constatável), e, portanto não sou pertencente à citada “elite”; e parece não ter notado que o grupo de brancos ao qual ela se refere, tem em sua maioria negros.

Fui criado pelos meus pais com base nos mais estritos princípios de respeito ao próximo. Participo de projetos de promoção cultural em diversas comunidades de Salvador, atuo junto a jovens em situação de risco e nunca agredi qualquer mulher ou homem. Mas desconhecendo tudo isto, a aluna me acusa de racismo e sexismo sem ponderar o impacto que estas inverdades terão sobre minha vida e a vida da minha família.

Vou trabalhar dentro de todas as possibilidades legais até que a verdade dos fatos seja restabelecida. Faço isso não apenas por mim e por minha família, mas também por acreditar que um membro de C.A legalmente eleito não deveria utilizar em seu embate com a coordenação uma estratégia como a que está em curso.

Não venho através desta carta aberta mostrar “a minha versão da história”, mas tentar esclarecer, que está em andamento um processo que pertence ao caso da política estudantil, onde meu nome está sendo utilizado sem qualquer ponderação sobre as consequências que as falsas acusações que me são feitas podem ter sobre minha vida e nem sobre os prejuízos que elas poderão trazer pra as minhas atividades presentes e futuras. Espero que as pessoas que me tem feito ameaças possam refletir um pouco melhor e antes de me condenarem, ou tentarem executar algum tipo de punição, acompanhem o restabelecimento da verdade dos fatos.

Mesmo temendo as ameaças que me foram feitas, retornarei a minhas atividades acadêmicas, pois pago a faculdade com bastante dificuldade. Portanto, venho através desta carta aberta afirmar que não sou agressor, sexista, racista e que não pertenço a qualquer elite nem grupos a qual me tenham acusado de pertencer. Espero poder continuar estudando e concluir minha graduação até que toda esta confusão tenha sido finalmente esclarecida.

Respeito, valorizo e me solidarizo com os movimentos negros e de mulheres. Mas estes estão sendo induzidos a erro por esta estudante, a qual de forma leviana vale-se da sua posição com a finalidade de prejudicar pessoa que nunca agiu, sequer por um momento, contra seus ideais e valores, os quais devem ser os ideais e valores de toda a sociedade brasileira. Atos como estes desonram e aviltam a memória e a luta dos heróis e mártires que a custa de tanto sofrimento cravaram em nossa Constituição os ideais de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, pautada na dignidade humana e com vistas à promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Assinado Lucas Pimenta, estudante de história de pele branca, mas com sangue, carne e ossos da mesma cor do sangue, carne e ossos de todos os meus colegas do curso de história e de todos os cidadãos brasileiros, independente de cor, raça ou credo.”

 

Comentário de Vanda Cruz em 30 abril 2011 às 18:28
O tapa na cara de Nairobe foi na minha também,  porque estamos incomodando. A guerra esta posta, cabe a nós conhecermos e nos apropriamos das armas necessárias para enfrentar a luta pela real "igualdade". Os brancos não vão perder seus privilégios sem nada fazer, nem mesmo querem conviver com nossa presença de forma pacifica. Fé e paz!!!
Comentário de Luciane Reis em 30 abril 2011 às 16:50

Ainda Caso Nairobi,Pronunciamento da Universidade.

Nota de Esclarecimento

 

O Centro Universitário Jorge Amado tendo notícia dos fatos apresentados pela acadêmica Verônica Nairobi Sales de Aguiar, a respeito do ocorrido em 27.04.11, vem perante a comunidade baiana esclarecer que, de acordo com os seus princípios e Estatuto institucional, instaurou Procedimento Administrativo Disciplinar, a partir da Portaria PO.RPR.003.11.00, para ouvir as partes envolvidas, assegurando, desse modo, o devido processo legal e o direito do contraditório. Cabe ressaltar que a UNIJORGE repudia qualquer tipo e forma de discriminação e prima pelos valores fundamentais de igualdade e liberdade presentes em um Estado Democrático e Social de Direito.

 

Salvador, 29 de abril de 2011.

 

Comentário de José Osmar Silva em 30 abril 2011 às 15:46
Cara, e, já estimada Nairobe, além de manifestar publicamente a minha indignação ao ler tal notícia, aproveito o ensejo para juntar-me aos demais para engrossar esse ato de solidariedade para com você e com todos nós que já fomos em algum momento ultrajados por essa pseudo elite europelizada. Vamos mostrar a este"senhorzinho", o que é verdadeiramente tirar onda. Axé.

Translation:

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