Trote UFMG: Brincadeira de Mau Gosto x Crimes Federais

Na última sexta-feira, aconteceu na Universidade Federal de Minas gerais, o famoso “trote” para calouros que ingressaram no curso de Direito em 2013. Alunos veteranos da UFMG, já famosos por praticar trotes violentos, se superaram ao fazer apologia ao nazismo e ao racismo.

Duas imagens que veicularam nas redes sociais chamaram à atenção pela ousadia. Em uma delas uma caloura com uma placa com os dizeres, “Caloura Chica da Silva”, está com o corpo pintado de preto e com as mãos acorrentadas enquanto um veterano de raça branca posa para foto segurando a corrente. Na outra imagem, um calouro aparece amarrado em uma pilastra e ao lado dele três veteranos fazem a famosa saudação nazista. Um deles, inclusive, aparece com um bigode similar ao usado por Adolf Hittler.

Toda a ação foi organizada por alunos da Faculdade de Direito da UFMG. Alunos que em alguns anos serão promotores, defensores públicos, delegados, policiais ou juízes. A situação já seria espantosa se qualquer outro curso promovesse uma ação parecida, mas quando isso acontece com alunos do Curso de Direito, o caso se torna desesperador. O que a população negra deve esperar quando necessitar de auxilio em casos de racismo? Para quem devem recorrer?

Mas o futuro é apenas um espelho do que já acontece hoje em dia. Atualmente esta população já é humilhada de todas as formas quando apresenta uma denúncia de injúria racial ou racismo. Juízes, promotores, delegados e quaisquer envolvidos simplesmente agem como se o caso não fosse grave e induzem a vítima a deixar o caso de lado.

Outro fator preocupante neste cenário de horror, ocorrido na UFMG, é a naturalidade que os alunos envolvidos tratam a situação ao dizer que tudo não passou de uma brincadeira. A mídia em geral, ao divulgar matérias sobre o assunto, classificou como “brincadeira de mau gosto”. O discurso de que agressões físicas ou verbais contra negros na verdade são brincadeiras começou a ser disseminado em programas de humor. Estes, quando questionados sobre o teor racista de declarações ou piadas, dizem que no humor tudo é permitido e a Liberdade de Expressão lhes dá o direito de ofender e agredir quem bem entendem. A televisão tem feito escola há tempos e o que aconteceu na UFMG é apenas mais um exemplo bizarro. Mas tudo isso já era de se esperar, afinal vivemos em um país que não assume ser racista e que tem fama internacional por lutar pela igualdade de todos os povos. O tal racismo mascarado e velado que muitos estudiosos e pesquisadores insistem em dizer que existe no Brasil, simplesmente é transmitido em programas de TV, redes sociais, escolas de nível médio e em universidades públicas, como a UFMG. Um humorista chama negros de macacos em redes sociais, estudantes de Direito de universidade pública pintam calouros de preto, acorrentam e fazem saudações nazistas, um deputado diz que negros foram amaldiçoados por Deus e se torna presidente da Comissão de Direitos Humanos e ainda tem “expert” por ai dizendo que o racismo é velado¿ O Brasil é simplesmente o país mais racista que existe na atualidade, por mascarar e mentir sobre o que de fato acontece com os negros brasileiros. Jovens negros têm morrido todos os dias e enquanto movimentos negros se unem para cobrar explicações, governantes informam através de dados estatísticos que tudo é normal.

Como é que a história de um povo que foi humilhado e trazido para um país estranho como escravo pode ser motivo de piada na TV ou em trotes de universidades? Como é que o fato do negro ter sofrido açoites e castigos mortais pode se transformar em motivo de risos? E antes que a Gang do Politicamente Incorreto se levante dizendo que o negro é que é racista, que o negro escravizava negro ou que todos nós fazemos parte da raça humana, espero que por um minuto entendam e assumam que as diferenças entre brancos e negros foram feitas por pessoas de raça branca e que os ensinamentos do passado foram passados de geração em geração. Mas estes ensinamentos de certa forma fazem algum sentido, afinal me sinto enojado em saber que existem pessoas tão baixas e insensatas a ponto de transformar dor e sofrimento em riso. Dito isto, declaro realmente que há diferença sim entre negros e brancos, pois não sou capaz de cometer crimes como grande parte da população branca comete, em função de cor ou raça. Assassinatos, omissões, injúria racial, racismo, entre outros.

Os jovens envolvidos no crime ocorrido na UFMG podem ser expulsos e isso agrada Movimentos Estudantis, Partidos Políticos e uma série de órgãos que mostram desprezo pela ação, depois que esta tomou grandes proporções. Gostaria de lembrar que o que chamam de brincadeira é um crime Federal. Veremos se a justiça é para todos e se realmente “todos são iguais perante a lei”.

 

Lei 7.716 de 5 de Janeiro de 1989

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

Acesse: https://www.facebook.com/renovacao.negra

Exibições: 734

Comentar

Você precisa ser um membro de Correio Nagô para adicionar comentários!

Entrar em Correio Nagô

Comentário de Frederico Pereira da Silva Vieir em 25 março 2013 às 15:52

um exemplo de ideologia ocorrido recentemente e que foi divulgado pela imprenssa foi o caso dos veteranos da UFMG de Direito, que pregaram o famoso "trote" nos calouros. Foi realmente uma brincadeira de mau gosto, mais que tinha um objetivo e um sentido diferente do que foi divulgado pela midia, os alunos veteranos pegaram uma garota que não queria ajudar nas tarefas de preparar o trote e perguntaram a ela se ela queria ser a chica da silva, a garota aceitou pos tinha um sentido, ela não estava ajudando na brincadeira, e acabou querendo participar. Na visão dos veteranos a brincadeira não teve maudade em relação ao racismo, e sim em relação a ela não estar ajudando nas tarefas como a chica da silva na história, que ela era uma escrava mais não fazia as coisas. O trote foi feito com a garota e as pessoas que viram o trote foram levados a pensar que era uma cena de racismo e com isso a divulgação saiu na midia de forma contraria ao sendido empregado.

Comentário de Flavio Martins de Carvalho em 24 março 2013 às 18:55

Não podemos ser coniventes com este tipo de humor bullying praticado por gente que pensa (se é que pensa) que não pode haver limites para "brincadeiras". Arrogância e hipocrisia é fingir não perceber que este tipo de "brincadeira" instiga o racismo cínico dos brasileiros.

Comentário de Thiago Ribeiro em 24 março 2013 às 17:26

O mesmo mi mi mi de sempre. racismo não existe!

Comentário de Genserico em 24 março 2013 às 15:30

Se todo tipo de brincadeira ou diversão ficar nessa hipocrisia o mundo vai ser um lugar chato. O trote foi feito em quem quis. Se foi ofensivo é porque pessoas se sentiram ofendidas, e isso é problema delas. A liberdade de expressão é isso, falar sobre tudo, comentar, ridicularizar é a expressão da pessoa sobre cada assunto. Se tudo ficar fiscalizado por essa militância  chata, arrogante e hipócrita vai se tornar uma ditadura. 

Comentário de Flavio Martins de Carvalho em 24 março 2013 às 10:17

É uma vergonha mesmo! Logo na faculdade que eu me formei! Acredito que tudo isso é uma reação às ações afirmativas que tem aumentado a quantidade de negros nas faculdades públicas, que sempre foram destinadas aos "filhinhos de papai".

A UFMG já criou uma Comissão de Sindicância para determinar a punição que será aplicada aos envolvidos nesta palhaçada, e eu espero que a punição seja exemplar; mas para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG), a punição pode não se restringir à esfera acadêmica. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, William Santos, considera que todos os participantes podem responder por racismo e apologia ao nazismo, definidos na Lei 7.716/89.

Translation:

Publicidade

Baixe o App do Correio Nagô na Apple Store.

Correio Nagô - iN4P Inc.

Rádio ONU

Sobre

© 2023   Criado por ERIC ROBERT.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço